O QUE PAULO FREIRE E O ETERNAUTA TÊM A VER UM COM O OUTRO? | JAVIER VILLANUEVA | Junio 2025

ENTREVISTA COM SAMUEL RODRÍGUEZ MEDINA | JAVIER VILLANUEVA | Junio 2025

Por: Javier Villanueva

ENTREVISTA COM SAMUEL RODRÍGUEZ MEDINA

Javier Villanueva entrevista o escritor e professor mexicano de artes e cinema Samuel Rodríguez Medina

Javier Villanueva: Samuel: Você e eu escrevemos juntos uma série de contos, “Muerte a la deriva” (Morte à deriva), em 2022. Desde então, sempre acompanhando do Brasil e admirando sua brilhante carreira, venho me perguntando como você conecta as artes visuais com a literatura?

Samuel Rodríguez Medina: O pensador francês Jan Luc Nancy diz em seu livro As Musas que as artes estão em conflito umas com as outras. Ele está certo. Pense em Diego de Velázquez desafiando diretamente os escultores em seu famoso “Cristo Crucificado” e fazendo a ousada declaração de que uma escultura fica melhor pintada do que em sua forma original. Considere um fotógrafo fotografando um edifício contemporâneo para transmitir a perfeição da composição, que na imagem rivaliza com a própria arquitetura.

No entanto, as artes também são afetadas positivamente. Pensemos em qualquer cena de um filme, por exemplo, a famosa cena da moça de vermelho em “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, que para mim é um ato de arte consumada, onde música, fotografia, literatura, arquitetura, fotografia e atuação encontram um ápice que talvez negue o que Nancy propõe. A maneira com a qual as artes, neste cenário, se transformam em um turbilhão de harmonia é alucinante.

La exposición “Luis Buñuel. Contacto en México”, que Samuel Rodríguez Medina diseñó para el Centro Buñuel Calanda, está en marcha desde hace unos meses. El Instituto Cervantes São Paulo, el Consulado General de México en São Paulo y la Librería Española e Hispanoamericana unieron fuerzas para fijar el 5 de agosto como fecha de inicio del gran evento

O exemplo mais destacado do nosso tempo é o recente Pedro Páramo, de Rodrigo Prieto, que consegue estabelecer uma nova visão do livro de Rulfo. Parece-me que as artes visuais e a literatura afetam uma à outra positivamente não quando se respeitam, mas quando se confrontam e se perturbam. Quando uma imagem poética não é interpretada em uma pintura, mas sim recebe espaço para se libertar, assim Chagall pinta Dom Quixote, Cristo de El Greco, Santo Antônio de Dalí, Nazarín de Pérez Galdós dos filmes de Buñuel, Kazantzakis de Scorsese e Shakespeare de Kurosawa, mas não é uma interceptação estrita, mas sim uma libertação destemida. Ao libertar a imagem poética e assumir essa libertação, a imaginação é ativada em sua potência máxima e então a imagem evolui e é incorporada a uma nova vida sem negar sua essência. 

Nos projetos em que tenho trabalhado recentemente, especialmente aqueles que combinam literatura clássica com pintura e cinema, tenho tentado relançar autores clássicos com uma perspectiva contemporânea para que eles possam nos ajudar a expressar nossas preocupações. Ao fazer isso, tento usar uma força que funde o passado com o presente. A exposição “A Arte de Ler”, na qual pintamos versões de obras literárias, tenta essa aventura.

Assim, confrontamos Cortázar, Anne Frank, Harper Lee, Sabines, Márquez, Orwell, Huxley, Bioy, Belli e muitos outros para arrancar deles uma verdade enterrada que pode inflamar o olhar das novas gerações de uma maneira diferente. Esta exposição foi apresentada na Universidade do Texas e no Tec de Monterrey.  

Essa mesma dinâmica também é sentida na exposição “Luis Buñuel, Contato no México”, que projetei para o Centro Buñuel Calanda, onde geramos uma narrativa totalmente nova do Surrealismo na obra do lendário diretor. Nestas obras de 18 artistas mexicanos, oferecemos uma maneira diferente de apreciar a obra de um gênio e unimos com ousadia a pintura ao cinema de Buñuel. Esta exposição foi apresentada na Espanha para o 125º aniversário de Don Luis em Calanda, sua cidade natal (*).

JV: E agora, voltando aos livros, e à sua produção literária, por que você escolhe o conto em vez do romance?

SEM: Comecei a escrever contos porque na noite em que decidi escrevê-lo estava com uma febre estranha. Para mim, o conto é exatamente isso: um estado febril de visão alterada que nos conecta com dois elementos fundamentais da experiência literária: fragilidade e resiliência. A escrita de um romance também pode ter essas duas características, mas, devido à sua extensão e à tirania que o romance exerce sobre o espectador, forçando-o a ler centenas de páginas, prefiro a nobreza da história, prefiro a fragilidade dentro da fragilidade, e não a fragilidade dentro da extensão.

Embora eu seja um grande amante de romancistas como Saramago, Marai, Kazantzakis, Pérez Galdós, Bioy, Némirovski, Dostoiévski, Tolstói, Ismail Kadaré ou Mark Twain, o que um conto de Borges ou Bolaño me oferece pessoalmente calibra meu espírito com maior força, pois vejo o conto como um relógio de bolso que pode engolir o mundo, enquanto o romance me parece um Big Ben que me avassala. 

Os autores que mais me ensinaram foram Borges e seu vício pela ideia de catástrofe, Maupassant e o veneno mortal de seus finais, Tchekhov e seus microabismos indiscretos, Bradbury e sua elegância ativa, Tolstói porque talvez seja o último autor que ainda acredita na humanidade, Conan Doyle por sua eficácia cirúrgica, Fontanarrosa pela eterna primavera de suas páginas, Bolaño e sua incerteza ao mesmo tempo doentia e curativa, Rulfo por ser o único que compreendeu o sabor mineral da terra árida.

Até agora, escrevi três coletâneas de contos: “A Ausência”, em homenagem ao médico argentino Jorge Mario Roitman, desaparecido durante a ditadura militar argentina em 1976. Sua história me abalou profundamente e foi onde aprendi a honrar a memória latino-americana como um mandato para toda a vida; “Morte à Deriva”, com meu amigo, o autor Javier Villanueva; e “A Ilha Instável”, todos impressos na Argentina. Neste último, ele inventou um personagem impossível que luta contra a morte no norte do México. Também escrevi “O Despertar do Olhar”, sobre arte e cinema, impresso no México e na Argentina. 

Todas as histórias que escrevo me envenenam e me vivificam em um único movimento místico e material que me transforma num fantasma de mim mesmo. Eu gosto disso. Se eu pudesse recomendar um Santo Graal dos contos latino-americanos, seria, claro, qualquer uma das obras de Borges, a quem considero uma luminária no denso mar da confusão. Do meu próprio trabalho, “A Casa dos Mil Corpos”, publicado pela revista chilena “El Porteño” e no qual proponho uma distopia latino-americana, mas se lido com atenção, pode ir da distopia ao realismo sujo. Minhas histórias são uma vitória sobre o sinistro sistema educacional mexicano, que tentou acabar com meu amor pela literatura e me transformar em uma engrenagem da indústria, mas falhou. A literatura venceu. Todos os meus livros estão na Amazon.

Você pode seguir Samuel no Instagram como: @samuelrodriguezdiciembre.

Samuel Rodríguez Medina é graduado pelo programa de pós-graduação em Filosofia pela Universidade de Granada, Espanha, professor de arte e cinema no Tec de Monterrey, autor e professor de arte no Museu de Arte Contemporânea de Monterrey. Seus projetos de arte foram apresentados no México, Espanha e Estados Unidos.   


ENTREVISTA CON SAMUEL RODRÍGUEZ MEDINA

Javier Villanueva entrevista al escritor y profesor de artes y cine mexicano Samuel Rodríguez Medina.

Javier Villanueva: Samuel: tú y yo escribimos a cuatro manos una coletánea de cuentos, “Muerte a la deriva”, en 2022. Desde entonces me pregunto, siempre siguiendo desde Brasil y admirando tu brillante trayectotoria ¿Cómo vinculas las artes visuales con la literatura?

Samuel Rodríguez Medina: Dice el pensador francés Jan Luc Nancy en su libro Las Musas, que las artes están en conflicto unas con otras. Tiene razón, pensemos en Diego de Velázquez retando directamente a los escultores en su famoso “Cristo crucificado” y lanzando el atrevido mensaje de que una escultura luce mejor en pintura que en su formato original. Pensemos en un fotógrafo retratando un edificio contemporáneo para hacer sentir la perfección de la composición que en la imagen rivaliza con la arquitectura misma.

Sin embargo, las artes también se afectan positivamente, pensemos en una escena cualquiera de una cinta, por ejemplo, la famosa escena de la niña de rojo en “La lista de Schindler” de Steven Spielberg, que para mí es un acto de arte consumado en donde la música, la fotografía, la literatura, la arquitectura, la fotografía y la actuación encuentra un cenit que tal vez niega lo que propone Nancy. La forma en la que en esta escena las artes se transforman en un torbellino de armonía es alucinante. 

El ejemplo más alto de nuestro tiempo es la reciente Pedro Páramo de Rodrigo Prieto que logra establecer una nueva visión del libro de Rulfo. Me parece que las artes visuales y la literatura se afectan positivamente no cuando se respetan sino cuando se confrontan y se inquietan mutuamente. Cuando una imagen poética no se interpreta en una pintura, sino que se le da espacio para liberarse, así Chagall pinta al Quijote, el Greco a Cristo, Dalí a San Antonio, Buñuel filma a Nazarín de Pérez Galdós y Scorsese a Kazantzakis y Kurosawa a Shakespeare, pero no es una estricta interceptación, sino en una intrépida liberación. Al liberar la imagen poética y hacerse cargo de esa liberación la imaginación se activa en su máxima potencia y entonces la imagen evoluciona y se incorpora a una nueva vida sin negar su esencia.

En los proyectos que he trabajado últimamente, sobre todo en la unión de literatura clásica con pintura y cine he intentado relanzar a los autores clásicos desde una intención contemporánea para que nos permitan pronunciar nuestras problemáticas. Al hacer esto intento hacer uso de una fuerza que fusione el pasado con el presente. La exposición “El arte de leer” en donde versionamos en pintura obras de literatura intenta esta aventura.

Así nos confrontamos con Cortázar, con Ana Frank, con Harper Lee, con Sabines, Márquez, Orwell, Huxley, Bioy, Belli y muchos otros para arrancarles de nuevo una verdad soterrada que tal vez logre encender la mirada de las nuevas generaciones de otra manera. Esta exposición ha sido presentada en la Universidad de Texas y en el Tec de Monterrey.

También esta misma dinámica se siente en la exposición “Luis Buñuel, contacto en México” que diseñé para el Centro Buñuel Calanda, en donde generamos toda una nueva narrativa del Surrealismo en la obra del mítico director. En estos trabajos de 18 artistas mexicanos ofrecemos una forma distinta de apreciar la obra de un genio y unimos muy audazmente la pintura con el cine de Buñuel. Esta exposición se presentó en España por el 125 aniversario de Don Luis en Calanda, su pueblo natal (*).  

 JV: Y dime ahora, volviendo a los libros, y a tu producción literaria ¿Por qué eliges el cuento sobre la novela?

SRM: Empecé a escribir cuento porque la noche que lo decidí me aquejaba una extraña fiebre. Para mí el cuento es eso, un estado febril de alteración de la mirada que nos conecta con dos cosas fundamentales de la experiencia literaria: la fragilidad y la resistencia. Puede que la redacción de una novela tenga también estas dos características, pero por su extensión y la tiranía que la novela ejerce con el espectador al forzarlo a leer cientos de páginas, prefiero la nobleza del cuento, prefiero la fragilidad en la fragilidad, y no la fragilidad en la extensión.

Si bien soy un gran amante de autores de novela como Sarama. go, Marai, Kazantzakis, Pérez Galdós, Bioy, Némirovski, Dostoyevski, Tolstoi, Ismail Kadaré o Mark Twain, lo que un cuento de Borges o de Bolaño me ofrece personalmente me calibra el espíritu con una fuerza mayor, ya que veo un cuento como un reloj de bolsillo que puede tragarse al mundo, mientras que la novela me parece un Big Ben que me abruma.

Los autores que más me han enseñado son Borges y su adicción a la idea como catástrofe, Maupassant y el veneno mortal de sus finales, Chéjov y sus micro abismos indiscretos, Bradbury y su elegancia activa, Tolstoi porque es quizá el último autor que aún cree en la humanidad, Conan Doyle por su efectividad quirúrgica, Fontanarrosa por la eterna primavera de sus páginas, Bolaño y su incertidumbre enfermiza y curativa a un tiempo, Rulfo ya que es el único que entendió el sabor mineral de la tierra yerma.

De momento he escrito tres libros de cuento “La ausencia”, en honor al doctor argentino Jorge Mario Roitman, desaparecido por la dictadura militar argentina en 1976, cuya historia me cimbró hasta los huesos y en donde aprendí a honrar a la memoria latinoamericana como un mandato de vida, “Muerte a la deriva”, con mi amigo el autor Javier Villanueva, y “La isla inestable”, todos impresos en Argentina. En este último inventó un personaje imposible que se debate con la muerte en el norte de México. He escrito además “El despertar de la mirada”, sobre arte y cine, impreso en México y Argentina. 

Todos los cuentos que escribo me envenenan y me vivifican en un solo movimiento místico y material que me convierte en un fantasma de mí mismo. Me gusta. Si pudiera recomendar un santo grial del cuento latinoamericano sería por supuesto cualquiera de Borges, a quien considero una luminaria en el denso mar de la confusión. De mi propia obra, “La casa de los mil cuerpos” publicado por la revista chilena “El Porteño” y en el que planteó una distopía latinoamericana, pero si se lee bien, puede pasar de distopía a un realismo sucio. Mis cuentos son una victoria sobre el siniestro sistema educativo mexicano que intentó arrancar de mí el amor por la literatura para convertirse en un engranaje de la industria y no lo lograron, ganó la literatura. Todos mis libros se encuentran en Amazon. 

Pueden seguirme en Instagram como @samuelrodriguezdiciembre.

Samuel Rodríguez Medina es egresado del posgrado de Filosofía por la Universidad de Granada España, profesor de arte y cine en el Tec de Monterrey, autor y profesor de arte en el Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey. Sus proyectos de arte se han presentado en México, España y Estados Unidos.