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CONHECENDO MELHOR A GRANDE MEXICANA ELENA GARRO | JAVIER VILLANUEVA | Julio 2025

Por: Javier Villanueva


CONHECENDO MELHOR A GRANDE MEXICANA ELENA GARRO

Foi uma grande alegria o convite do amigo Rodrigo Vázquez, autoridade do Consulado Geral do México em São Paulo para o lançamento pela editora Pinard de La semana de los colores, da autora mexicana Elena Garro, pouco conhecida no Brasil.

Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura 1990 -com quem a autora de La semana de los colores foi casada-, e Elena Garro, foram dois entre os maiores escritores mexicanos do século XX.

A união de Octavio Paz e Elena apenas durou mais de vinte anos (vinte e dois, dizem uns, vinte e seis outros) e tiveram uma única filha, Laura Helena Paz Garro. 

Nesse período conheceu Adolfo Bioy Casares, casado em um matrimonio aberto com Silvina Ocampo que aceptava a bisexualidade da escritora argentina. Incluso, se vinculou con la poeta Alejandra Pizarnik, enquanto Bioy seria amante por duas décadas de Elena Garro. 

Após o divórcio em 1950, a obra de Garro foi ofuscada pela obra de Paz. Repetindo a velha história de machismo que já conhecíamos no casal Frida Kahlo e Diego Rivera, ou em Camille Claudel e Auguste Rodin, a escritora mexicana Elena Garra sofreu pela relação de cruel dominação que o escritor Octavio Paz exerceu sobre ela, e foi marcada ao mesmo tempo pela repressão política do México, e pelo narcisista mundinho literário, que nunca exaltou os muitos méritos das suas letras.

Apesar dos seus escritos pioneiros, poucas vezes foi lembrada tanto quanto outros autores ligados ao “realismo mágico” latinoamericano. Pelo contrário, em 2016, Garro foi nomeada em um folheto promocional apenas como “a esposa de Octavio Paz, a amante de Bioy Casares, e uma inspiração para García Márquez, admirada por Borges”. 

Quase 30 anos depois da sua morte, as suas três obras mais importantes são republicadas em Espanha e, como disse ao início, coincidentemente também no Brasil surge a edição de A semana das cores em português, pela editora Pinard. No evento propi - ciado pelas autoridades do México em São Paulo, junto com a especialista brasileira Mariana Adami conseguimos revisar sua história, conversando também com a pesquisadora que a salvou do esquecimento, a mexicana Patricia Rosas Lopátegui.

Um adiantamento da obra de Elena Garro em edição brasileira já havia aparecido em 2013, traduzido por Josely Vianna Bap - tista, na Antologia de literatura fantástica (Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo e Jorge Luis Borges) de 1940. Esse texto -Um lugar sólido-é justamente a peça de teatro que abre as portas da literatura mexicana para a novel autora em 1957.

A primeira vez que Elena Garro esteve na Espanha foi em 1937, quando ficou com Octavio Paz na Valência castigada pelas bombas fascistas e juntos participaram do 2º Congresso Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura. Ela contou suas experiências em Memorias de España, de 1937 - obra que foi relançada na península nesse 2025 pela editora Bamba. Ela voltaria às terras do seu pai junto com a filha, em 1974, num de seus vários exílios. Em Madrid viveu sete anos de solidão, semelhante aos seus últimos anos de vida no México, em Cuernavaca, onde morreu em 1998.

Desapareceu com ela uma das melhores entre as escritoras e escritores de língua espanhola do século XX. Foi jornalista, dramaturga, poetisa, narradora e roteirista. E sua vida sempre foi atravessada pela relação de cruel dominação que Octavio Paz exerceu sobre ela desde 1937, quando o poeta foi buscá-la na universidade, proibindo-lhe prestar exames para que se casassem de imediato e de surpresa para toda a família. 

Sua biógrafa, a também mexicana Patricia Rosas Lopátegui, conta que, depois daquele casamento inesperado, a jovem de apenas vinte anos nem sabia como contar aos pais, pois, durante o namoro - iniciado por insistência dele - Elena implorava ao pai que a levasse para um convento. Don José Antonio Garro Melendreras se opôs ao relacionamento por causa do narcisismo e autoritarismo do namorado. Mas tudo aquilo foi apenas o triste presságio da sua vida nas décadas seguintes, tanto para Elena Garro quanto para sua filha, Helena Paz Garro.

A vida já turbulenta da autora foi ainda mais prejudicada pela repressão política do governo mexicano: “Desde o final de 1956, Elena Garro virou uma figura incômoda para o regime, pelo seu ativismo social a favor dos camponeses despossuídos de suas terras”, disse Patricia Rosas Lopátegui. Mas só no massacre dos estudantes de Tlatelolco, em 1968, patrocinado pelo presidente Gustavo Díaz Ordaz, que começou a tomar forma a história incriminatória e falsa sobre a escritora, acusando-a de ter montado uma “conspiração comunista, dentro do movimento estudantil, para derrubar o governo”. Nas palavras da sua biógrafa, “Elena foi ‘assassinada’ através da lenda negra.”

Garro, que apesar das perseguições de que foi vítima, nunca deixou de trabalhar como jornalista, em entrevistas, reportagens e crônicas em que desafiava a sociedade pelo seu ativismo contra a marginalização das mulheres e dos indígenas, se afirmou na escrita e nunca parou de escrever. É por isso que, para localizar suas obras no tempo e no espaço, é preciso falar de datas e lugares diferentes: “Ela pegou seus manuscritos em vários momentos e os ampliou ou reelaborou. Isso fazia parte do seu processo criativo, pois ao não conseguir publicar seus romances, contos, peças, memórias ou poemas, eles ficavam trancados em baús e malas de viagem e terminavam mudando frequentemente de gênero literário”, explica Patricia Rosas Lopátegui. Por exemplo, escreveu Inés entre 1961 e 62, em Paris, retomou o texto mais de dez anos depois em Madrid, e novamente em Paris, em 1982, e foi então que o relato passou de conto para romance.

Mudavam seus textos de um gênero para outro, mas o que não muda ao longo de toda a sua carreira literária é a sua vocação autobiográfica: “O que não é experiência é a academia”, disse Garro, pois seu trabalho segundo Patricia Rosas Lopátegui, -a pesquisadora que tirou a escritora da lenda negra-, pode ser visto como um grito que pinta cenas reais para moldar uma composição que é inventada, como por exemplo o da violência de gênero que ela não vai denunciar na delegacia, mas sim num espaço mais seguro, no qual ela pode narrar algo que seria indizível na vida real. Na frase sobre a experiência e a academia, originalmente de Ortega y Gasset, a vida não é uma vivência isolada, e sim uma interação constante entre o indivíduo e o seu contexto, incluindo a academia. 

A Semana das Cores destaca a importância do espacial e o temporal na construção dos significados da narrativa em ficção. Os relatos fazem uma reconstrução do temporal e do espacial que entrelaça, por um lado, aspectos do patrimônio cultural religioso judaico-cristão e, por outro, as tradições e crenças das antigas comunidades mexicanas e da Mesoamérica; essas crenças se refletem no presente e reaparecem no universo da ficção. As constantes reformulações de tempo e espaço são molde para os estados mentais dos personagens, e emergem do texto como forças criativas que culminam em uma nova concepção de categorias espaciais e temporais. Podemos dizer que a reelaboração dessas categorias favorece a surgimento do inusitado na narrativa e revela processos de formação de novas identidades e alteridades, sempre enraizadas no México profundo e ancestral.

A vocação de Elena Garro como cronista é exercer a denúncia social, e isso fica bem evidente logo na primeira vez que seu nome é publicado. Seus temas recorrentes eram a pobreza, o racismo, o autoritarismo e a corrupção, a violência de gênero, assim como os crimes contra os indígenas e camponeses. Nesse aspecto não deixava de coincidir com o seu marido e algoz, Octavio Paz, que em RTVE, em entrevista de 1977 afirmou que “a história de México é uma história trágica, uma história de infortúnios, cheia de dramas y fracassos”. 

Quando tinha só 24 anos, em 1941, escreveu uma reporta - gem, Mulheres Perdidas, para a revista Así. O texto nasce de uma audaz pesquisa para a qual precisou entrar durante dez dias disfarçada numa Casa de Orientação Feminina de Coyoacán, algo semelhante a uma prisão feminina, na qual ela denuncia as atroci - dades cometidas contra meninas e jovens mulheres. A obra, que terminou com a demissão do diretor da prisão e ainda melhorou as condições de vida das presas, lhe deu grande notoriedade. A reportagem, assim como toda a sua obra, ajuda a compreender melhor como muitos dos preceitos dos povos indígenas e sobre - tudo os mitos católicos, tão enraizados na ideologia mexicana, causam a violência de gênero e os feminicídios que nos deixam de cabelos em pé, por exemplo, na escrita de 2666 do chileno Roberto Bolaño quando retrata os crimes contra mulheres na fronteira norte do México.

Outro exemplo de escrita realista é o romance Inés, publicado nesse ano de 2025 na Espanha pela editora Espinas. Ela disse sobre o romance em uma entrevista de 1995: “Eu queria salvar Inés, mas como não deixaram, pensei em escrever. Se eu tivesse feito isso antes, talvez eles tivessem me esfaqueado.” Acontece que a personagem Inés é mantida em cativeiro por pessoas amal - diçoadas que realizam rituais de ignomínia e crueldade. Ela só pensa em fugir, mas está condenada ao confinamento e à tortura porque não é apenas mais uma vítima do grupo e de seus líderes, mas sim a vítima propiciatória, escolhida pelos deuses ou pelos demônios para derrubar a lógica de não haver vítimas ou algozes.

A luta de Elena Garro não acabou, por isso as mulheres continuam brigando até derrubarmos -juntas e juntos, mulheres e homens- aqueles velhos valores que nos desumanizam.

Talvez nas suas letras, Elena Garro nos fale com insistência da figura do corpo feminino fraturado que nos remete ao mito de Coyolxhauqui, materializado no monolito que encontramos no Museo Templo Mayor, na Cidade do México. O mito conta que Coyolxhauqui, irmã de Huitzilopochtli, o deus da guerra na cosmovisão asteca, representa a mulher que enfrentou a autocracia masculina e foi punida com o desmembramento, transformada na Lua, à qual seu irmão Sol vai se perpetuar para derrotá-la na madrugada de todos os dias.   

CONOCIENDO MEJOR A LA GRAN MEXICANA ELENA GARRO

Fue una gran alegría recibir una invitación de mi amigo Rodrigo Vázquez, autoridad del Consulado General de México en São Paulo, al lanzamiento por parte de la editorial Pinard de La semana de los colores, obra de la autora mexicana Elena Garro, poco conocida en Brasil.

Octavio Paz, Premio Nobel de Literatura 1990 -con quien estuvo casada la autora de La semana de los colores-, y Elena Garro, fueron dos de los más grandes escritores mexicanos del siglo XX. 

La unión entre Octavio Paz y Elena duró poco más de veinte años (unos dicen veintidós, otros dicen veintiséis) y solo tuvieron una hija, Laura Helena Paz Garro. Durante este período conoció a Adolfo Bioy Casares, casado en matrimonio abierto con Silvina Ocampo que aceptaba la bisexualidad de la escritora argentina, su esposa, que, incluso mantuvo una relación con la poeta Alejandra Pizarnik, mientras que Bioy, por su parte, sería amante de Elena Garro durante dos décadas.

Después de su divorcio en 1950, el trabajo de Garro quedó eclipsado por el de Paz. Repitiendo la vieja historia del machismo que ya conocíamos en la pareja Frida Kahlo y Diego Rivera, o en Camille Claudel y Auguste Rodin, la escritora mexicana Elena Garro sufrió la relación de cruel dominación que ejerció sobre ella el escritor Octavio Paz, y estuvo marcada a la vez por la represión política en México, y por el narcisista mundo literario, que nunca ensalzó los múltiples méritos de sus escritos.

A pesar de sus textos pioneros, pocas veces ha sido tan recordada como sí lo fueron otros autores vinculados al “realismo mágico” latinoamericano. Por el contrario, en 2016, Garro fue nombrada en un folleto promocional solo como “la esposa de Octavio Paz, la amante de Bioy Casares y una inspiración para García Márquez, admirada por Borges”.

Casi 30 años después de su muerte, sus tres obras más importantes fueron reeditadas en España y, como decía al principio, casualmente, la edición de A semana das cores en portugués también fue publicada en Brasil por la editorial Pinard. En el evento organizado por las autoridades mexicanas en São Paulo, junto a la especialista brasileña Mariana Adami, pudimos repasar su historia, conversando también con la investigadora que la salvó del olvido, la mexicana Patricia Rosas Lopátegui.

Un adelanto de la obra de Elena Garro en una edición bra - sileña ya había ocurrido en 2013, traducida por Josely Vianna Baptista, en la Antología de literatura fantástica (de Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo y Jorge Luis Borges) de 1940. Este texto –Un lugar sólido– es precisamente la obra que abrió las puertas de la literatura mexicana a la novel autora en 1957.

La primera vez que Elena Garro estuvo en España fue en 1937, cuando se alojó con Octavio Paz en Valencia, devastada por las bombas fascistas, y juntos participaron en el II Congreso Internacional de Escritores para la Defensa de la Cultura. Relató sus vivencias en Memorias de España, de 1937, obra que fue reeditada en la península en 2025 por la editorial Bamba. Regresaría a las tierras de su padre con su hija, en 1974, en uno de sus muchos exilios. En Madrid vivió siete años de soledad, similares a sus últimos años de vida en México, en Cuernavaca, donde murió en 1998. Con ella desapareció una de las mejores escritoras en lengua española del siglo XX. 

Elena fue periodista, dramaturga, poeta, narradora y guio - nista. Su vida estuvo siempre marcada por el cruel dominio que ejerció sobre ella Octavio Paz desde 1937, cuando el poeta fue a buscarla a la universidad, prohibiéndole de presentarse a sus exámenes para poder casarse de inmediato, con gran sorpresa para toda la familia. Su biógrafa, la también mexicana Patricia Rosas Lopátegui, cuenta que, tras aquel inesperado matrimonio, la joven, de apenas veinte años, ni siquiera supo cómo decírselo a sus padres, pues, durante el noviazgo -que comenzó por insistencia de él, Elena le rogó a su padre que la llevara a un convento. Don José Antonio Garro Melendreras se opuso a la relación debido al narcisismo y autoritarismo de su novio. Pero todo aquello fue solo un triste presagio de su vida en las décadas siguientes, tanto para Elena Garro como para su hija, Helena Paz Garro.

La ya turbulenta vida de la autora se vio aún más dañada por la represión política del gobierno mexicano: “Desde finales de 1956, Elena Garro se convirtió en una figura incómoda para el régimen, debido a su activismo social a favor de los campesinos desposeídos de sus tierras”, afirmó Patricia Rosas Lopátegui. Pero fue solo durante la masacre de estudiantes en Tlatelolco en 1968, auspiciada por el presidente Gustavo Díaz Ordaz, que comenzó a gestarse la historia incriminatoria y falsa sobre la escritora, acusándola de haber montado una “conspiración comunista, dentro del movimiento estudiantil, para derrocar al gobierno”. En palabras de su biógrafo, “Elena fue ‘asesinada’ a través de la leyenda negra”.

Garro, quien a pesar de la persecución de la que fue objeto, nunca dejó de trabajar como periodista, en entrevistas, reportajes y crónicas en las que interpelaba a la sociedad a través de su activismo contra la marginación de las mujeres y los indígenas, se consagró en la escritura y nunca dejó de escribir. Por eso, para ubicar sus obras en el tiempo y el espacio, es necesario hablar de diferentes fechas y lugares: “Tomó sus manuscritos en diversos momentos y los amplió o reelaboró. Esto formaba parte de su proceso creativo, pues al no poder publicar sus novelas, cuen - tos, obras de teatro, memorias o poemas, estos permanecían guardados en baúles y maletas y acababan cambiando de género literario con frecuencia” explica Patricia Rosas Lopátegui. Por ejemplo, escribió Inés entre 1961 y 62, en París, volvió al texto más de diez años después en Madrid, y de nuevo en París, en 1982, y fue entonces cuando el relato pasó de cuento a novela.

Cambiaron sus textos de un género a otro, pero lo que no varió a lo largo de su carrera literaria fue su vocación autobiográfica: “Lo que no es experiencia es academia”, dijo Garro, porque su obra, según Patricia Rosas Lopátegui, -la investigadora que sacó a la escritora de la leyenda negra-, puede verse como un grito que pinta escenas reales para darle forma a una composición que se inventa, como la violencia de género, por ejemplo, que ella no denunciará en la comisaría sino en un espacio más seguro, en el que pueda narrar algo que sería indecible en la vida real. En la frase, originalmente de Ortega y Gasset, lo que se dice es que la vida no es una experiencia aislada, sino una interacción constante entre el individuo y su contexto, incluido el académico.

La Semana del Color destaca la importancia del espacio y el tiempo en la construcción de los significados de las narrativas de ficción. Los relatos reconstruyen los aspectos temporales y espaciales que entrelazan, por un lado, aspectos del patrimonio cultural religioso judeocristiano y, por otro, las tradiciones y creencias de las antiguas comunidades de México y Mesoamé - rica. Estas creencias se reflejan en el presente y reaparecen en el universo ficticio. Las constantes reformulaciones del tiempo y del espacio son un molde para los estados mentales de los personajes y emergen del texto como fuerzas creativas que culminan en una nueva concepción de las categorías espacia - les y temporales. Podemos decir que la reelaboración de estas categorías favorece la emergencia de lo insólito en la narrativa y revela procesos de formación de nuevas identidades y alteri - dades, siempre enraizadas en el México profundo y ancestral.

La vocación de Elena Garro como columnista es la de denuncia social y eso queda bien claro la primera vez que se publica en su nombre. Sus temas recurrentes fueron la pobreza, el racismo, el autoritarismo y la corrupción, la violencia de género, los crímenes contra indígenas y campesinos. En este sentido, no dejó de coincidir con su marido y torturador, Octavio Paz, quien en una entrevista en RTVE en 1977 afirmó que “la historia de México es una historia trágica, una historia de desgracias, llena de dramas y de fracasos”.

Cuando tenía apenas 24 años, en 1941, escribió un reportaje, Mujeres perdidas, para la revista Así. El texto fue resultado de una audaz investigación para la que tuvo que permanecer de incógnito durante diez días en un Centro de Orientación Femenina de Coyoacán, algo parecido a una cárcel de mujeres, donde denuncia las atrocidades que se cometen contra niñas y jóvenes. La obra, que concluyó con la destitución del director de la prisión y además mejoró las condiciones de vida de las presas, le dio gran notoriedad. El informe, como toda su obra, nos ayuda a comprender mejor cómo muchos de los preceptos de los pueblos indígenas y en especial los mitos católicos, tan arraigados en la ideología mexicana, provocan violencia de género y feminicidios que nos dejan los pelos de punta, por ejemplo, en el escrito 2666 del chileno Roberto Bolaño cuando retrata los crímenes contra las mujeres en la frontera norte de México.  

Otro ejemplo de escritura realista es la novela Inés, publicada en España en 2025 por la editorial Espinas. En una entrevista de 1995, comentó sobre la novela: “Quería salvar a Inés, pero como no me dejaron, pensé en escribir. Si lo hubiera hecho antes, quizá me habrían apuñalado”. Resulta que el personaje, Inés, está cautivo de personas malvadas que realizan rituales de ignominia y crueldad. Ella solo piensa en escapar, pero es condenada al confinamiento y a la tortura porque no es una víctima más del grupo y de sus líderes, sino la víctima propiciatoria, elegida por los dioses o por los demo - nios para invertir la lógica de que no haya víctimas ni verdugos.

Quizás en sus letras, Elena Garro nos habla con insistencia de la figura del cuerpo femenino fracturado que nos remite al mito de Coyolxhauqui, materializado en el monolito que encontramos en el Museo del Templo Mayor, en la Ciudad de México.

Cuenta el mito que Coyolxhauqui, hermana de Huitzilopochtli, dios de la guerra en la cosmovisión azteca, representa a la mujer que se enfrentó a la autocracia masculina y fue castigada con el desmembramiento, transformada en la Luna, a la que su hermano el Sol perpetuará para vencerla al amanecer de cada día.

La lucha de Elena Garro no ha terminado, y por eso las mujeres siguen luchando hasta derrocar -juntos, mujeres y hombres- esos viejos valores que nos deshumanizan.

Notas bibliográficas: 

La semana de colores, Universidad Veracruzana, 1964. 

A mi sustituta en el tiempo. Poesía de Elena Garro. Edición, estudio preliminar y notas de Patricia Rosas Lopátegui. México, Gedisa,2024. 253 pp.